Unicamp é a universidade brasileira que mais cria

SABINE RIGHETTI
DE SÃO PAULO

Se é papel das universidades desenvolver produtos para o mercado, não há consenso. Mas, hoje, 5 dos 10 maiores patenteadores do país são instituições de ensino. Por isso, um dos indicadores do RUF são os pedidos de patentes ao Inpi (Instituto Nacional da Propriedade Intelectual) na última década.

Levantamento do órgão mostra que a Unicamp pediu a exclusividade de exploração comercial para 272 inovações de 2004 a 2008 (o pedido pode ser negado; a análise leva até oito anos). Só perdeu para a Petrobras.

Na sequência da Unicamp, figuram entre os dez primeiros lugares a USP e as federais de Minas Gerais (UFMG) e do Rio de Janeiro (UFRJ), além de duas fundações estaduais de amparo à pesquisa.

Eduardo Knapp/Folhapress
Fachada do Instituto de Química da Unicamp, universidade brasileira que mais cria
Fachada do Instituto de Química da Unicamp, universidade brasileira que mais cria

Isso acontece, de acordo com especialistas ouvidos pela Folha, por dois motivos.

De um lado, há uma movimentação das universidades para inovar mais, registrar mais patentes e fazer parcerias com o setor produtivo.

Do outro, existe uma apatia do setor produtivo brasileiro, que, sozinho, desenvolve poucas novidades para o mercado consumidor.

"Fazer patentes é importante para a universidade", disse à Folha o reitor da Unicamp, Fernando Costa.

"Mas as universidades não podem carregar sozinhas o peso de ser as grandes patenteadoras do país."

Para ele, o problema é que as empresas brasileiras ficaram muito tempo protegidas pela garantia do mercado consumidor interno, já que a importação era dificultada. Por isso, elas não precisavam inovar para competir.

"Isso está mudando. Daqui a alguns anos, as empresas serão as grandes inovadoras do Brasil", diz Costa.

Isso não significa, porém, que a Unicamp quer perder o bonde. A ideia, diz o reitor, é ter cada vez mais pesquisas em parcerias com empresas.

A universidade está até construindo um parque tecnológico para abrigar laboratórios de empresas que queiram fazer pesquisa em parceria com seus pesquisadores.

As universidades do topo da lista no quesito inovação do RUF são aquelas que criaram recentemente escritórios, dentro do campus, voltados para o assunto.

A pioneira nisso é a UFMG, cuja coordenadoria voltada para inovação já tem 15 anos.

USP e Unicamp vieram depois, com suas agências de inovação criadas em 2003.

Esses escritórios, inspirados em modelos que existem há décadas nas grandes universidades dos EUA, têm profissionais especializados em escrever pedidos de patentes e em introduzi-las no mercado por meio de licenciamento a empresas.

No escritório da UFMG há cerca de 50 funcionários fazendo esse tipo de atividade. De acordo com o reitor da universidade, Clélio Campolina Diniz, eles são responsáveis pelo aumento no número de pedidos. Foram 75 no ano passado. Em 2001, eram 20.

VACINA E TÊNIS

Entre as patentes da UFMG comercializadas recentemente estão a de uma vacina contra leishmaniose e a de um tênis de alto rendimento. Na Unicamp, já foi licenciada até uma máquina para detectar combustível adulterado.

Hoje, pesquisadores brasileiros são avaliados por órgãos como a Capes e o CNPq apenas por sua produção científica (como a quantidade de artigos publicados). O número de patentes por docente não entra na conta, mas isso já foi cogitado.

"Universidades não devem ser avaliadas por patentes. É um erro. Quem tem de fazer inovação são as empresas", diz o físico e professor emérito da Unicamp Rogério Cezar de Cerqueira Leite.

Com BIANCA BIBIANO, colaboração para a Folha

Editoria de Arte/Folhapress
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