Listagens simplificam demais a realidade

DON F. WESTERHEIJDEN
ESPECIAL PARA A FOLHA

Todos os anos o mesmo frenesi invade universidades em todo o mundo: qual delas é a número um no ranking mundial? Os coordenadores das universidades definem metas de ascensão na classificação; os governos lançam políticas para a criação de "instituições de primeira linha". Mas todos os anos as mesmas reações iradas enchem colunas de jornais e de periódicos acadêmicos, criticando os métodos dos rankings, seus dados e seu impacto.

As pessoas querem saber sobre o ensino superior. Cada vez mais gente tem acesso a ele. Muitos estudantes de primeira viagem e seus pais, bem como pequenas e médias empresas, não sabem quem é quem na educação universitária –como sabem aqueles que tradicionalmente frequentam seus círculos.

Além disso, o sistema de educação superior ficou tão grande e complexo que criou uma necessidade de conhecimento para entendê-lo –intensificada pelo aumento da mobilidade de estudantes entre países. Os rankings satisfazem essa necessidade?

Para mim, os rankings atuais (o ARWU, de Xangai, o THE, de Londres) simplificam demais a realidade. Eles medem instituições muito diversas de ensino e de pesquisa como se todas fossem universidades de pesquisa, dando um só conjunto de informações a todos os usuários.

Os rankings informam simplesmente sobre pesquisa (publicações, citações, pesquisadores famosos) e selecionam apenas as universidades mais fortes nessa área. As instituições de ensino de graduação, que suprem bem as necessidades de muitos estudantes, não têm por objetivo serem líderes em pesquisa, mas só podem entrar nos rankings atuais se se tornarem universidades de pesquisa. Isso é bom para um país? É bom para os alunos?

Os rankings atuais são como tabelas de campeonato de futebol, apresentando listas dos números 1, 2, 3 etc. Desse modo, eles superestimam diferenças muito pequenas: às vezes é preciso muito pouco para o número dois virar número um, e, de modo geral, as diferenças nas posições mais baixas são completamente insignificantes.

O THE e o ARWU propõem agrupar em bloco essas universidades com notas menores –o ARWU a partir da 100ª posição e o THE a partir da 200ª. Isso ajuda um pouco.

Em campeonatos de futebol, as normas dos rankings são rígidas e estáveis (2/1/0 pontos para vitórias/empates/derrotas), mas, nos rankings de universidades, as regras são tão arbitrárias e inconstantes que as instituições mudam de posição sem que tenham feito qualquer alteração real no ensino.

Os estudantes querem informações sobre os diferentes programas de estudos. As empresas querem saber sobre as capacidades de inovação de pesquisadores em suas áreas de atuação. Faltam aos rankings de universidade as duas coisas: contemplar a diversidade de disciplinas e mostrar a diferença entre ensino e pesquisa/inovação.

Recentemente, o ARWU e o THE começaram a divulgar rankings por áreas de conhecimento, com base em indicadores específicos. Continuam amplos demais, mas já é uma melhora.

O ranking alternativo patrocinado pela União Europeia, U-Multirank, procura evitar esses erros. A proposta é disponibilizar dados das universidades para que o usuário faça sua análise na dimensão que quiser, no lugar de apresentar uma listagem resultante de um cálculo que atribui pesos aos dados. A primeira edição deve sair no final de 2013.

DON F. WESTERHEIJDEN é pesquisador sênior do Centro de Estudos de Políticas para o Ensino Superior, da Universidade de Twente, na Holanda.

Tradução de CLARA ALLAIN.

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