Escolas temem que o novo teto salarial provoque êxodo de cérebros

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USP, Unesp e Unicamp vivem momentos de tensão. O salário de parte dos professores deve ser cortado nos próximos meses, depois de o Supremo Tribunal Federal deixar clara a aplicação do teto salarial para o funcionalismo.

Até então, havia dúvidas do que considerar no salário do servidor para o cálculo desse limite salarial.

A remuneração de um funcionário estadual não pode ultrapassar vencimentos do governador: Geraldo Alckmin (PSDB) ganha R$ 21,6 mil.

No entendimento das universidades, os benefícios conquistados antes de 2003 não deveriam ser considerados nos salários dos servidores para o cálculo do teto. O Supremo, porém, contrariou esse entendimento. Disse que tudo deve ser computado.

Assim, só na USP, cerca de 7% dos servidores devem passar a ganhar menos devido à decisão. Em geral, são os mais experientes da escola.

As universidades, que aguardam os últimos trâmites legais para iniciar os cortes na folha de pagamento, dizem que podem perder parte dos melhores professores.

Em artigo publicado mês passado na Folha, chamado "O Começo do Fim", o reitor da Unicamp, José Tadeu Jorge, disse que há grande risco de haver migração de docentes para as federais, onde o teto é maior (R$ 34 mil).

Para os servidores federais, o limite considera o salário de ministro do Supremo.

DÚVIDA

Dados levantados pela reportagem, porém, relativizaram a possibilidade de migração docente para federais.

A Folha analisou o caso emblemático dos campi em São Carlos (interior de SP), um da USP e outro de uma federal, a UFSCar.

Usando dados públicos do governo federal e da USP, a reportagem comparou os salários brutos de todos os professores do Instituto de Física de São Carlos, da USP, e dos docentes do departamento de física da UFSCar.

Não há grande diferença entre as médias salariais. A maioria recebe entre R$ 11 mil e R$ 15 mil mensais.

Nenhum dos 48 membros do departamento da federal chega a receber o teto do funcionalismo paulista.

Comparando dois pesquisadores com tempo parecido de carreira, categoria similar (professor associado) e a mesma área geral de pesquisa (nanotecnologia) das duas instituições, a USP se sai melhor novamente: paga R$ 17 mil ao seu docente, contra R$ 15 mil no caso da UFSCar.

Entre os docentes titulares (máximo da categoria), na UFSCar os salários variam entre R$ 17 mil e R$ 19 mil. Na USP, entre R$ 14 mil e R$ 30 mil (esses últimos são os que serão afetados pelo corte).

O físico Fernando Fernandes Paiva, professor do instituto da USP desde 2012, diz que a discussão sobre as possíveis vantagens das instituições federais é controversa.

"Pouca gente vai priorizar um número lá no fim da carreira para decidir se vai prestar concurso numa federal."

Um ponto importante, para Paiva, é a infraestrutura oferecida e o ambiente de pesquisa em cada instituição.

"Quando você se estabelece, ganha seu espaço e cria infraestrutura para fazer suas pesquisas, é quase loucura abrir mão disso por conta de um teto que pode ou não vir no fim da carreira", afirmou.

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