USP dribla crise e fica à frente no RUF em pesquisa e percepção do mercado

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A USP (Universidade de São Paulo) não escapou da crise financeira que nos últimos anos vem afetando as instituições de ensino superior Brasil afora.

Mesmo assim, conseguiu se manter como líder em pesquisa e de percepção do mercado de trabalho no RUF (Ranking Universitário Folha) –e ainda melhorou em aspectos específicos avaliados, como o impacto de cada publicação de seus professores.

O desempenho global neste ano lhe devolveu o primeiro lugar no país, ultrapassando a Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e a UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).

O tamanho da USP, somado a reformas administrativas recentes e ao peso da tradição, ajudaram a assegurar que as pesquisas da instituição se mantivessem em andamento e que seus alunos continuassem a se destacar.

E, desde o ano passado, certas medidas de contenção de gastos adotadas em 2014 começaram a se afrouxar: já há dinheiro disponível para retomada de obras e contratação de professores efetivos.

Enquanto muitas universidades brasileiras estão mergulhadas na crise financeira, a USP começa a se reerguer depois de uma crise própria, que teve o ápice em 2014. Naquele ano, os gastos da universidade foram de 125%
do seu orçamento -só em folha de pagamento, a USP precisou gastar 106% de toda verba recebida.

O descontrole dos gastos havia começado alguns anos antes. O Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCE-SP) chegou a rejeitar as contas da USP de 2013 e multou o então reitor, João Grandino Rodas.

Desde então, a USP já realizou dois Programas de Incentivo à Demissão Voluntária (PIDVs), que levaram ao desligamento de 2.800 servidores. Em agosto deste ano, o comprometimento do orçamento com a folha de pagamento ficou em 88%.

Miguel Xavier de Lima estava terminando seu doutorado em neurociência na Universidade de São Paulo em 2014, no auge da crise financeira da USP. Ele, porém, continuou sua pesquisa sem problemas e, graças a uma bolsa da Fapesp, em 2015 deu início ao seu pós-doutoramento.

"Dentro do laboratório não vimos crise", diz. O laboratório Neuroanatomia Funcional do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB), onde atua, recrutou pesquisadores em 2015 e em 2017. "Temos várias linhas de pesquisa em andamento, então usamos uma agenda para dividir o uso das duas salas de cirurgia, por exemplo", afirma.

USP

O compartilhamento de equipamentos e laboratórios por várias linhas de pesquisa e diferentes projetos é uma das decisões políticas de racionalização de recursos adotadas pela gestão atual para tentar ganhar eficiência na produção de pesquisa.

"Isso já existia, mas vamos ampliar", afirma o vice-reitor Antônio Carlos Hernandes. "Estamos saindo da crise fazendo uma boa gestão administrativa, priorizando as atividades fins, que são pesquisa, ensino, cultura e extensão", afirma Hernandes.

O melhor aproveitamento de recursos também se deu em outras áreas como no ensino. Sem aumentar o número de vagas, a Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH-USP), conhecida como USP Leste, passou este ano a oferecer um novo curso, de Biotecnologia.

O curso de licenciatura em ciências da natureza tinha uma procura muito baixa, menos de dois candidatos por vaga. A infraestrutura e os professores foram aproveitados para organizar o novo curso.

A licenciatura se manteve, mas só no período noturno. As 60 vagas do período da manhã foram para a Biotecnologia, cuja concorrência foi de 9,38 candidatos por vaga no seu primeiro vestibular.

"A mudança traz uma nova perspectiva para professores e alunos e agrega valor para a sociedade. Não aumentamos o número de vagas, mas tivemos uma melhor ocupação delas", afirma Hernandes.

Apesar de todos os cortes, a USP também investiu nos últimos anos em um projeto de digitalização dos processos internos.

"Tínhamos um problema de lentidão dos processos, muita coisa ainda em papel. Fizemos um grande avanço para a USP ser 100% digital. Ganhamos eficiência", diz Hernandes. Segundo ele, essa mudança compensou em certa medida os funcionários que saíram nos PIDVs.

Contudo, por causa das saídas nos PIDVs, mais as aposentadorias normais do período e o congelamento das contratações de professores efetivos, a USP começou a enfrentar a falta de docentes.

O número de professores temporários triplicou entre 2014 e 2017. Agora, com o reequilíbrio das contas, o Conselho Universitário já aprovou a realização de novos concursos neste ano.

"Com medidas duras, porém necessárias, saímos de uma situação difícil. Não é ainda uma situação de tranquilidade, mas já temos horizontes melhores", afirma o vice-reitor.

Ele lembra que a universidade voltou a investir em obras –estão previstos R$ 40 milhões no orçamento atual– e lançar editais de pesquisas em áreas consideradas importantes, como inteligência artificial.

Para Xavier de Lima, certos horizontes já se apresentam. Prestes a concluir seu projeto de pesquisa atual, ele vai prestar concurso para se tornar professor efetivo do instituto onde trabalha atualmente.

Mas depois de tantos anos formando doutores e pós-doutores sem fazer nenhuma contratação, a demanda pela vaga de docente da USP está alta. "A concorrência é acirrada: somos 21 candidatos, todos extremamente qualificados", afirma Lima.

Há muitos interessados em ser professores da melhor universidade do Brasil.

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